Natureza pura

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os CURANDEIROS



O horóscopo Xamânico provém dos nativos norte-americanos, sendo baseado em todo o Universo – desde os minerais ao Homem. Como o nome indica este horóscopo era do domínio dos apelidados Xamãs – curandeiros, sapientes e curandeiros. Eram eles quem comunicavam com os deuses, com a Natureza e eram ligação entre a vida e a morte.


- Tem como base a Natureza, que tanto respeitavam, pois acreditavam que a sua sobrevivência dependia da harmonia entre todos. A simbologia de cada animal é usado para a descrição dos arquétipos e os ciclos têm como base os ciclos lunares, as 4 estações – os ciclos da Natureza.


- Os signos correspondem ainda a um género de vento e direcção, entre tantos outros elementos naturais, que representam as qualidades, defeitos, futuro, presente, etc.

GANSO - 21-12 a 20-01 - Lua de Renovação da Terra

- É marcado pelas suas ideologias, originado alguma severidade. É curioso com gosto pelo desconhecido e perfeccionista, enfrentando com grande entusiasmo a vida. Ambição e perseverança também o caracterizam e no amor chega a ser bastante egoísta, centrando-se apenas nele mesmo. Não possui grande sentido de humor e peca por não ser afectuoso para com quem o rodeia. Castor, Urso Pardo e o Corvo são os Signos com quem melhor se dá.


- Estimule o seu lado social, expresse-se mais emocionalmente.
- Evite as dúvidas e o pessimismo.
- A sua Planta é a Framboesa e o mineral Peridoto.
- A Cor é o Branco com direcção para Noroeste.

LONTRA - 21-01a 20-02- Lua da Tranquilidade e da Purificação

- É marcado pelos seus ideais, querendo sempre mais do que aquilo que é suposto e procurando a verdade acima de tudo. Criatividade, lógica, excentricidade, grande capacidade humanitária e intuição são algumas das melhores qualidades da Lontra. Ao mesmo tempo este signo não vivem bem com normas, tende a um modo mais liberal de viver. Isto leva a uma rebeldia e imprevisibilidade e procuram também viver grandes amizades antes das paixões. Os signos com que se dá melhor são o Corvo, Falcão e Cervo.

- Estimule o seu lado criativo e coragem, bem como tolerar mais.
- Evite ser tão excêntrico.
- A sua planta é o Alísio e o mineral a Turquesa.
- A sua cor é Prata com direcção para o Norte.

LOBO - 21-02 a 20-03 - Lua dos Grandes Ventos

- É caracterizado por ter bastante graciosidade, iniciativa e gostar de liberdade. É muito fiável, tendo um grande apreço por aqueles que ama. Tem como objectivo primordial estimular o amor, com grande compaixão, o que demonstra grande sensibilidade, intuição e criatividade. Ajuda sempre que pode e quem precisa e ao mesmo tempo quer o respeito pela sua liberdade. Afecta-se bastante por aquilo que dizem sobre si e é bastante tímido, mas ao mesmo tempo sincero e reflexivo, sendo um romântico e carinhoso, mas também bastante possessivo. Pica-Pau,Urso Pardo e a Serpente são os signos que tem mais compatibilidade.

- Estimule o seu lado intuitivo, criativo e compreensivo.

- Evite ser possessivo.
- A sua planta é a Tanchagem e o mineral Jade.
- A sua cor é o azul esverdeado e deve seguir para Nordeste.

FALCÃO VERMELHO - 21-03 a 20-04 - Lua da Árvore em botão

- É marcado por gostar da liderança e da sua impulsividade. Destaca-se também pela sua individualidade, mesmo sendo aceite no grupo que o rodeia. É um signo bastante activo, esforçado mas impetuoso. A sua actividade leva a tomar decisões algo precipitadas, que tende a arrepender-se mais tarde.É também bastante extrovertido e tem grande audácia, ganhando entusiasmo com novas experiências. O seu objectivo passa por conduzir os outros e é um ser bastante apaixonado. Os signos Salmão e Coruja são aqueles com que tem mais compatibilidade.

- Estimule o seu lado paciente, persistente e a sua compaixão.
- Evite a vaidade, o orgulho e intolerância.
- A sua planta é o Dente-de-leão e o mineral Opala.
- A sua cor é o Verde amarelado e deve seguir para Nordeste.

CASTOR - 21-04 a 20-05 - Lua de Retorno dos Sapos

- Caracteriza-se por ser bastante carinhoso. A sua natureza é empreendedora, com um lado bastante possessivo. A sua segurança é proveniente de bens materiais, tornando-se bastante inflexível. Trabalha bastante e tem grande persistência, o que o leva a atingir os seus objectivos. Ao mesmo tempo necessita de harmonia de forma a evitar mudanças de humor. O seu objectivo é perceber que na vida os bens materiais não são o mais importante. Pica-pau, o Urso Pardo e o Ganso são os signos com que se dá melhor.

- Estimule a sua adaptação e compaixão.
- Evite de ser possessivo e inflexível.
- A sua planta é o Trevo silvestre e o mineral Jaspe sanguíneo.
- A sua cor é o amarelo e deve seguir em direcção de Leste.

CERVO- 21-05 a 20-06 - Lua do Plantio do Milho

- É caracterizado por ser forte, orgulhoso e agressivo. É bastante hábil e a sua segurança é adquirida através daquilo que possuiu. É um ser bastante curioso intelectualmente e por vezes inconsistente e agitado. Está sempre atento ao que o rodeia e no amor tanto é entusiasmado como perde o interesse. O seu objectivo passa por tentar coordenar tudo aquilo que o atrai. Não fica preso à rotina e é atraído por tudo o que lhe é novo, gosta portanto de desafios. Corvo e Lontra são os signos com que melhor se dá.

- Estimule a sua concentração e o seu lado persistente e paciente.
- Evite de ter variâncias de humor de ser inconsistente e superficial.
- A sua planta é o Verbasco e o mineral a Ágata.
- A sua cor é o Laranja e deve seguir para Sudeste.

PICA-PAU- 21-06 a 20-07 - Lua do Sol Intenso

- Caracteriza-se por ter um lado bastante emotivo e carinho, bem como uma grande sensibilidade. Sacrifica-se por aqueles que mais gosta e tem como objectivo aplicar o seu equilíbrio emocional na parte material. É um ser bastante romântico com um grande afecto materno e tanto é protector como vulnerável. Serpente, Lobo e Castor são os signos com que se dá melhor.

- Estimule a sua capacidade de perdão e o seu lado intuitivo.
- Evite o seu lado possessivo e a auto-compaixão.
- A sua planta é a Rosa silvestre e o mineral Quartzo rosa.
- A sua cor é o Rosa e deve seguir para Sul-Sudeste.

SALMÃO - 21-07 a 20-08 - Lua dos Frutos Maduros

- Como o próprio Salmão, retorna sempre a casa. Caracteriza-se por gostar tanto do seu espaço vital, tendo grande generosidade e sensibilidade. Tem grande imaginação, levando também a grandes mudanças de humor. O seu objectivo consiste em ter uma vida em harmonia com a natureza. Tem grande segurança e entusiasmo, com grande capacidade de liderança. Tem ainda grande energia e intransigência. O seu lado amoroso é passional e insaciável. Coruja e Falcão são os signos com que se dá melhor.

- Estimule o seu lado tolerante e a sua estabilidade emocional.
- Evite a sua faceta arrogante, egoísta e intolerante
- A sua planta é a amora silvestre e o mineral Cornalina.
- A sua cor é o Roxo e deve seguir para Sul.

URSO PARDO - 21-08 a 20-09 - Lua da Colheita

- Conta com uma grande preseverança e uma grande independência. É bastante perfecionista e deseja alcançar a perfeição, daí criticar-se tanto. É bastante trabalhador e alcança sempre ao que se propõe. Gosta da rotina e é de confiança, tem grande lealdade e soluciona todos os problemas que lhe ocorrem no quotidiano. É moralista e reprimido no que toca ao amor. Ganso e Lontra são os signos com que se dá melhor.

- Estimule o seu lado Optimista e tolerante.
- Evite o Cepticismo e as críticas destrutivas.
- A sua planta é a Violeta e o mineral Topázio.
- A sua cor é o Violeta e deve seguir para Sudoeste

CORVO- 21-09 a 20-10 - Lua do Voo dos Patos

- É um ser inteligente e esperto. É um idealista por natureza e cultiva a paz, desejando uma convivência em harmonia. Não suporta a solidão e é muito bondoso e influenciado por aquilo que o rodeia. Para além de idealista é um diplomata, apoiando sempre a justiça. O seu objectivo é a harmonia e tem tanto de forte como de sensível no que diz respeito ao amor. Cervo e Lontra são os signos com que se dá melhor.

-Estimule a sua imparcialidade e inspiração.
- Evite o seu lado Indeciso, incerto e inconsistente
- A sua planta é a Hera e o mineral Azurita.
- A sua cor é o Azul e deve seguir para Sudoeste.

SERPENTE - 21-10 a 20-11 – Lua do tempo frio

- É bastante misterioso e reservado, omite os sentimentos e atitudes bastante frias. A juntar a isto demonstra ser bastante sensível, sofrendo bastante sem que ninguém note, aguardando o momento certo para retribuir o mal que lhe foi feito. Do lado positivo, é bastante imaginativa e carinhosa e bastante intensa no amor, levando ao limite a sua sexualidade. Lobo e Pica-Pau são os signos com que se dá melhor.

- Estimule o seu lado mais determinado e criativo.
- Evite o egoísmo, arrogância e ciúmes.
- A sua planta é a Espinheira santa e o mineral Ametista.
- A sua cor é o Violeta e deve seguir para Oeste.

CORUJA - 21-11 a 20-12 – Lua da neve

- Observa bastante, com grande inteligência e secretismo. É também bastante perfeccionista e tem a necessidade de liberdade. Adapta-se muito bem a todas as situações, tem grande curiosidade e determinação. É da sua natureza ser discreta, sincera e inteligente, sendo mesmo bastante compreensiva. No plano amoroso gosta de aventuras e atraí-se muito pelo exótico. Falcão e Salmão são os signos com que se dá melhor.

- Estimule a sua concentração.
- Evite exagerar.
- A sua planta é Visco e o mineral Obsidiana.
- A sua cor é o dourado e deve seguir para Noroeste.


Eu Sou a Luz que Brilha em Toda Parte


A Ascenção do Xamã




O QUE É O XAMÃ
O QUE É O “XAMANISMO”
?


Da Agenda: O XAMÃ

Mircea Eliade, um dos maiores estudiosos do xamanismo, explica que a palavra “xamã” vem da palavra saman do dialecto tungue, aparentada ao termo sânscrito sramana e ao pãli samana, que significam “homem inspirado pelos espíritos”. Como decorrência destes significados, associou-se a idéia do maná a um campo de força e energia sobrenatural inerente a determinados indivíduos ou objectos que mantém alguma relação com o que está oculto e é sagrado. Assim, o xamanismo pode ser entendido como uma prática ritualística que visa adquirir a “força maná” para que seja possível acessar outras realidades diferentes desta que conhecemos.
No geral, os antropólogos, etnólogos e historiadores das religiões consideram o xamanismo como um sistema primitivo de crenças, suplantado e superado pelas religiões hierarquizadas modernas. Entretanto, principalmente desde que Carlos Castañeda tornou público suas aprendizagens com um xamã mexicano chamado Dom Juan, um número crescente de pessoas tem procurado ampliar a ligação com o divino por meio daqueles rituais e técnicas “primitivas”, abrindo a consciência para outras realidades, deixando num segundo plano suas dependências para outras realidades, deixando num segundo plano suas dependências espirituais para com os sacerdotes das Igrejas. Em parte, isso decorre da falta de respostas para muitos dos conflitos internos que as pessoas estão enfrentando, porque as Igrejas não apresentam respostas à contento; por outro lado, vão em busca de cura e de experiências espirituais mais “concretas”, ou mesmo de uma fonte de conhecimento sobre ecologia, dada a ênfase nas relações harmoniosas entre o ser humano e o planeta que o xamanismo propõe.
Algumas características distinguem o xamanismo de outros métodos ocidentais de “re-ligação” com o divino. A principal delas é entrar em êxtase e acessar o mundo oculto pela via directa, sem intermediários. Alguns podem denominar este estado diferenciado como um simples “transe”; entretanto, podemos classifica-lo como uma mudança de estado de consciência obtida pela pessoa ao entrar em contacto com outras realidades (mundos paralelos a este que conhecemos). Também existem as “viagens”, os “voos mágicos” (jornadas ou viagens xamânicas) para entrar em contacto directo com os “espíritos” (seres pertencentes àquela outra realidade) em busca de diversos tipos de conhecimento, ou mesmo para auxiliar aqueles que chegam ao momento da morte física. Estas são experiências que ocorrem por desdobramento astral ou mental, em estado de vigília ou durante o sonho, com o xamã parcial ou totalmente consciente das situações apresentadas.
O modo como são feitos os rituais também caracteriza o xamanismo. Os xamãs vêm usando desde tempos muito antigos vários tipos de estímulos externos para alcançar estados alterados de consciência: cânticos sagrados, objectos cerimoniais (penas, ossos, garras de animais, cachimbos, pedras e cristais, etc), danças, ingestão de plantas psicoativas, sons (de flautas, apitos, chocalhos, animais), e batidas de tambor. O objectivo disso é deslocar a percepção desta realidade tridimensional e levá-la a se abrir para os mundos internos pertencentes aos universos paralelos. Em outras palavras, é um esforço direccionado a desactivar em parte a mente racional para permitir o acesso directo à mente intuitiva, juntamente com o preparo correto das emoções. Quanto aos sons ritmados, sua primeira função é promover uma conexão ao pulsar da Mãe-Terra, integrando assim a pessoa à harmonia da Vida (o que lhe possibilitará encontrar a harmonia que traz a cura), ou para entrar em sintonia com algum espírito que possua este padrão de pulsação, ou mesmo deslizar em harmonia pelos vários corredores dimensionais que existem naturalmente no planeta; uma segunda função é actuar como referencial para que a consciência das pessoas que participam do ritual possa retornar de forma segura aos seus corpos físicos ao término da cerimónia, evitando que se percam nas suas viagens em busca de outras realidades.
Outra característica marcante do xamanismo é a interacção directa ou indirecta com outros seres da natureza. Nuvens, montanhas, árvores, pedras, ventos, insectos, rios, os animais marinhos e terrestres, a Terra, etc., todos possuem consciência própria e poderes específicos, no entender do xamã. Assim, quando este entra em contacto com um espírito de natureza, pode dialogar ou mesmo se fundir a ele, compartilhando da sua força e sabedoria.
Para um homem ou uma mulher ser considerado um xamã (e não somente um curandeiro ou médium), existem seis requisitos básicos que, de certa forma, indicam os dons, o esforço pessoal, e o tempo necessário para uma preparação xamânica completa:
1) Ter a capacidade de ser um conselheiro: saber ajudar os outros a usar seus dons pessoais, sua magia pessoal, e guia-los por um caminho de vida mais produtivo e em prol do bem comum;
2) Ter o conhecimento da História dos Mundos, da Criação: saber seu lugar dentro do Todo, sua origem e a de seu povo, além de obter o referencial seguro do espaço-tempo no qual vive;
3) Ser um curador físico, emocional, mental e espiritual para um indivíduo, para um grupo ou Nação, ou mesmo para o planeta: conhecer os processos de cura natural da Mãe-Terra por meio das ervas, do contacto com a sabedoria dos Animais de Poder, das Direcções, das Forças da Natureza, dos Quatro Espíritos Chefes (os Quatro Elementos), do Povo das Estrelas e dos seres que habitam outras realidades;
4) Ter a capacidade de empreender “voos mágicos”: ser capaz de fazer desdobramento astral ou mental conscientemente (no estado de vigília ou em sonho) toda vez que for necessário, trazendo mensagens especiais ou métodos de cura específicos;
5) Em algum momento da sua vida, transmitir seu conhecimento para outras pessoas: todas as experiências precisam ser compartilhadas para que os processos de cura e a sabedoria dos ancestrais sejam despertados nos corpos e nas mentes de muitos, alterando gradualmente a estrutura da realidade vivenciada por todos nós;
6) Ter penetrado nas próprias trevas interiores, enfrentado e vencido seus medos mais sombrios, após diversas Mortes Rituais: conhecer directamente a origem da dor e do sofrimento humano traz a compaixão e o Amor Incondicional que a ninguém julga, por descobrir que tudo tem a sua razão de ser como é; também, conhecer tais regiões faz desenvolver habilidades especiais, permitindo lidar com feitiços, magia negra e obsessores, sem se deixar envolver por inseguranças.
Vistos dessa forma, os xamãs são guias espirituais da sua comunidade; são homens e mulheres que seguem uma crença baseada no respeito e interacção profunda com a Mãe-Terra; são pessoas que possuem a capacidade de contactar todas as criaturas de luz e sombra e todos os Reinos (inclusive as pertencentes às realidades paralelas às quais têm acesso por meio de estados alterados de consciência) para ajudar a manter o equilíbrio físico, emocional, mental, e espiritual de quaisquer membros da sua sociedade, ou mesmo do planeta como um todo.
O fenômeno xamânico não deveria ser visto como algo sobrenatural ou primitivo (mesmo que muitos dos xamãs ainda vivam longe da civilização em condições precárias, falando e invocando forças numa linguagem com significados e objectivos estranhos para nós). Actualmente, em diferentes culturas se encontram instituições de desenvolvimento espiritual que ensinam como fazer a expansão da consciência durante os desdobramentos astrais ou mentais para contactar as realidades paralelas (às custas de muita disciplina interior e exterior) e como utilizar técnicas de cura das mais variadas (quelações, ervas medicinais, induções mântricas, aromaterapia, radiestesia, etc), além de conduzirem seus discípulos a testes iniciáticos dificílimos, com Mortes Rituais explícitas. Também existem alguns centros de pesquisa (Instituto Monroe, por exemplo) que trabalham há vários anos desenvolvendo métodos – com auxílio de tecnologia moderna ou não – provocando nos voluntários resultados paranormais semelhantes aos “dons xamânicos”, e alguns governos têm trabalhado com “videntes remotos” para a resolução de crimes complexos, ou mesmo para dinamizar a espionagem executando “vôos mágicos”. E esta antiga arte de cura vem sendo estudada por médicos, que introduzem nos seus processos terapêuticos os conhecimentos obtidos dos xamãs, ou procuram aprender com eles a entrar numa comunhão Maior com seus pacientes para obter um diagnóstico mais eficaz. Segundo P. Drouot: “há uma expressão moderna que engloba, todos os estados espirituais, místicos, religiosos, mágicos, parapsicológicos e xamânicos: a experiência transpessoal. A natureza notável da experiência transpessoal torna-se evidente quando a comparamos à nossa percepção cotidiana do mundo com os limites julgados normais e inevitáveis. No estado de vigília, nos percebemos como corpos materiais sólidos. É verdade que somos limitados em nossa percepção do mundo pela gama dos nossos sentidos e pela configuração do meio ambiente. Percebemos então a nós mesmos como um jogo energético ou um campo de consciência conectado a esta entidade viva: a Grande Mãe-Terra.”
Enxergar a nós mesmos como energia nos leva à ciência. Os físicos já reconhecem que o universo tem mais do que três dimensões, com “buracos de minhoca” que podem nos levar a espaços-tempos diferentes, para dimensões diferentes. Quando surgiram as teorias sobre a dualidade onda/partícula da física quântica, alterando profundamente a concepção da natureza da matéria como “blocos básicos” isolados entre si, a idéia do que considerávamos como “sólido” e “real” aos nossos cinco sentidos passou a ser questionada. Em seguida, a composição holográfica do universo se tornou um fato científico e, recentemente, surgiu o conceito matemático da existência de uma interação direta e instantânea entre quaisquer partículas (indo além da realidade de Einstein, na qual a velocidade máxima que uma partícula pode viajar – e interagir – seria a velocidade da luz). Isso nos diz que, em teoria, podemos interagir com qualquer parte do universo instantaneamente, porque funcionamos como uma teia energética viva de acontecimentos simultâneos, interligados e interdependentes, já que tudo e todos somos energia condensada. Os xamãs dos diversos povos já diziam sobre a existência de uma ordem universal em equilíbrio harmonioso; vêm nos ensinando que os pensamentos e comportamentos de cada indivíduo contribuem para o bem-estar ou mal-estar da sociedade e do planeta; afirmam há muito a existência de uma “rede”, de uma “teia de aranha” que tudo coordena e que nos permite contactar um número maior de experiências, ou mesmo todo o universo. Portanto podemos estar com a nossa consciência aqui e em outro lugar, simultaneamente.
Como resultado desta múltipla amplificação do ponto de vista sobre o xamanismo, podemos dizer que, se até pouco tempo atrás os xamãs viviam restritos apenas ao seio das tribos indígenas (ou nas colónias de pescadores e comunidades agrícolas afastadas), actualmente podemos encontrá-los também vivendo nas cidades como “xamãs urbanos”. Muitos possuem nível universitário ou profissões das mais diversas. Estes “novos xamãs” estão surgindo com a missão de trazer para o nível consciente da Humanidade atual um conhecimento de paz e harmonia naturais, latente em todas as pessoas, qual seja, saber o contacto com a Mãe-Terra e com o Pai-Céu. Surgem como novos conscientizadores, propondo o desenvolvimento do lado direito do cérebro (despertar o lado intuitivo) para superar as fronteiras do espaço-tempo. São curadores da matéria e do espírito (como sempre foram os xamãs), só que agora aliando a sabedoria ancestral com as novas descobertas científicas, propondo reformulações de conceitos e paradigmas.
De uma maneira generalizada, podemos entender que as substâncias do corpo, as emoções desencadeadas, os pensamentos emitidos, enfim, tudo que somos pode ser traduzido por ondas e descodificado em frequências. Assim, se permitirmos à nossa mente expandir a compreensão lógica com a ajuda dos conceitos diferenciados da física quântica, da tecnologia muito avançada e da medicina holística, podemos descobrir num futuro próximo as leis naturais que comandam a vida nas realidades subtis. Então, estas novas realidades deixarão de pertencer ao “oculto”, ao “sobrenatural”. Neste momento, as escolas esotéricas, a ciência e a psicologia se unirão, redescobrindo a unidade natural da Vida nas multi dimensões. Quando isto acontecer, o sistema do mundo xamânico deixará de representar um simples aglomerado de crenças animistas classificadas como superstições. Os “ritos”, os “cânticos sagrados”, as “danças” e os “símbolos” deixarão de ter apenas uma interpretação metafórica; o tempo deixará de ser obrigatoriamente linear, possibilitando o “vôo mágico”, e o espaço vivenciado por nós poderá alcançar qualquer ponto da Terra, da galáxia ou além.

XAMANISMO
Por Léo Artese

A palavra Xamã tem sua raiz na Sibéria (originou-se com os Tungúsios, uma tribo mongol), vinda da palavra Saman, que significa “inspirado pelos espíritos”. O termo xamã foi adotado pelos antropólogos ao referirem-se a curandeiros, feiticeiros, etc., e referindo-se ao xamanismo como um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato com uma realidade oculta a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio e saúde para si mesmo e para outras pessoas.

Origem e Propagação do Xamanismo

O xamanismo é encontrado em todas as partes do mundo, Sibéria, América do Norte, América do Sul, Austrália, Oceania, África, China, Índia, Tibete, (é a crença oficial na Coréia do Norte) etc. As semelhanças das práticas são notáveis. Segundo estudiosos, o xamanismo está presente há pelo menos 20.000 anos, sua origem levanta algumas possibilidades.
- Vindos da Sibéria, os xamãs teriam emigrado durante as grandes glaciações, seguindo rebanhos de renas, passando pelo estreito de Bering, e espalhando-se pelos continentes.
- Surgimento espontâneo em diferentes locais, com a possibilidade de comunicação astral, telepática entre eles.
- Seriam os primeiros xamãs seres extra-terrestrestres?
O Papel do Xamã

O xamã pode ser homem ou mulher, é o poeta, o mágico, o curandeiro, o conselheiro, o líder espiritual, o contador de histórias, etc. Sua principal especialidade está ligada aos processos de cura. Quando digo cura, não me refiro apenas ao corpo físico, mas também ao mental, emocional e espiritual.
Para atingir seus objectivos o xamã viaja por mundos invisíveis à realidade ordinária, recupera traços perdidos da alma de seus pacientes, conhece o funcionamento da energia universal, altera níveis de consciência sempre que deseja para obter orientação do mundo espiritual, conhece o uso do poder das pedras e das plantas, evoca seres elementares da natureza, utiliza instrumentos que lhe conferem poder, círculos de energia, etc.
Os xamãs são os verdadeiros guardiões da Mãe Terra. Honram a tudo o que tem vida, trabalham com símbolos naturais a do seu inconsciente e aprendem a interpretá-los para superar obstáculos.
Nunca estão sozinhos, sempre estão acompanhados do seu espírito guardião animal, e seus espíritos auxiliares.


O Xamanismo na Nova Era

O xamanismo é a célula mater de todos os processos atuais da chamada Nova Era, que, na realidade de novo só tem o nome, pois o que temos feito é buscar respostas nas práticas ancestrais. O respeito pela ecologia e pelas condições ambientais, o reconhecimento do sagrado, a necessidade de expandir a consciência, a importância da vida espiritual, a ajuda ao próximo e a prática do amor universal é nossa linha filosófica.
Célula-mater porque dá origem a todas as práticas do movimento aquariano por exemplo; utilização de cristais, ervas medicinais, radiestesia e radiônica, energia das formas, mantras, posturas, técnicas de visualização, bastões, danças, banhos, passes, imposição de mãos, poder da palavra, vestimentas rituais, utilização dos elementos (terra, fogo, ar, água) canalizações espirituais.
Isto não significa, colocar o xamanismo no pedestal das práticas actuais, e sim dar uma referência histórica da prática religiosa mais antiga da humanidade, mesmo porque as práticas oriundas do xamanismo, também tiveram seu seguimento e expansão específicos.
O xamanismo vem resgatar a profunda conexão do homem com a Terra, nos ensina a honrar todas as formas de vida, pois onde há vida, está Deus (monismo panteísta). Compreendemos que todos os seres vivos possuem sua missão no plano universal, desde insectos, plantas, pedras, animais, até nós, seres humanos de duas pernas.
Fica difícil imaginar, que tipo de missão poderia ter um mosquito, ou uma barata, porém nada está na Terra por acaso, quando termina o tempo de uma espécie, a própria natureza se encarrega de encerrá-la, vide o exemplo dos dinossauros.
É indiscutível também as marcas do xamanismo nas grandes religiões: O ritual do Judaísmo na circuncisão, o batismo cristão, a iniciação do Crestos (Cristo) no deserto, a morte e o retorno à vida, as visões de Maomé, a busca da iluminação de Buda, os sete chacras etc.
Por sentirmos Deus nas diferentes formas de energia, consideramos Sagrado cada uma delas. Cada planta, cada pedra pode transmitir-nos ensinamentos de cura, aprendemos a decifrar as mensagens que vem dos ventos, reconhecemos que fazemos parte de uma grande família universal, que a Terra é a nossa mãe, nutrindo-nos, sustentando-nos, recebendo-nos a cada vida e nos acolhendo a cada morte.
Várias tradições xamânicas esperam por um novo tempo que virá com o retorno dos antigos xamãs, que reencarnariam em outros povos, com outra linguagem, com outra cor de pele, transmitindo a Linguagem do Amor Universal, promovendo o reencontro do homem com o Sagrado, para que possamos todos juntos caminhar na Beleza e na harmonia com cada ser vivo, caminhar em equilíbrio em nossa Mãe Terra.
O verdadeiro poder está em cada um de nós, ele provém do desenvolvimento de nossos dons, pode ser chamado de Eu Superior, Cristo Interior, Kundalini, Poder Mental, etc. O mais importante é reconhecer a centelha divina que cada um de nós possui por herança natural e saber como acessa-la. Entender que qualquer que seja o caminho espiritual escolhido, é preciso confiar, ter fé, entregar-se para poder integrar-se. Não temer a desilusão, pois a desilusão vem com a verdade, e, se você desconfia, você não se desilude, mas também não aprende e não conhece a verdade. É preciso acreditar que existe um Poder Superior que governa a lei de causa e efeito, e que aquele que busca a verdade com o coração aberto e a mente limpa, pode até cair, mas jamais ficará no chão.
O reconhecimento do Caminho da Verdade vem da expansão de nossa consciência obtida através da introspecção, de nossas experiências pessoais, do nosso contacto com o divino, com o “religare”, pois muitos falam muito e ouvem pouco, muitos ensinam muito e praticam pouco, muitos recebem muito e quase nada dão.
Na Idade de Ouro da Humanidade o homem comunicava-se com seres celestiais, com espíritos da natureza, com sua divindade. Com o passar das eras, em nome do progresso, do avanço da ciência, a humanidade foi distanciando-se de sua essência espiritual. Para nós o verdadeiro Religare é a união de todo esse avanço conquistado pelo homem, por inspiração divina, sem nos esquecermos de que somos sagrados.
Respeitando e honrando pontos de vista, porém nunca desviando-se do caminho, deixamos o julgamento a quem deve julgar. Com passos lentos observamos e captamos mensagens verdadeiras que só vêm quando temos a nossa mente calma e silenciosa, e o coração cheio de amor. Devagar no caminho, mas com pressa de chegar.
No xamanismo busco minha verdade na Criação Divina, o mapa do caminho está escrito em cada vegetal, nas mudanças de estação, nas portas de cada direcção cardeal, no movimento dos ventos, nos hábitos e talentos de cada animal, nas gravações de cada pedra, com a iluminação e calor do Sol, nas fases da Lua, nas trilhas das Estrelas. Procuro harmonizar-me com a Criação, para poder alcançar o Criador.
Praticando o xamanismo, encontro a senha para tornar possível o meu caminhar no Sagrado, transformando o meu ser, enxergando com os olhos de uma criança, voando como a Águia acima das nuvens negras da ignorância, protegendo com o Leão, o mesemente não for jogada à Terra; se você planta limão, não espere colher maçãs; se a terra não estiver boa, prepare-a; se a terra estiver seca, coloque água. Lembre de que não são todas as plantas que crescem em qualquer lugar, você não poderia plantar uma macieira no deserto, a não ser que ache um Oásis. Não podemos nos esquecer, também, de que uma planta pode sofrer o ataque de alguma praga, portanto devemos estar sempre atentos. Devemos analisar se realmente queremos uma macieira ou outro tipo de árvore. E, ainda, termos a consciência de que uma árvore leva mais tempo para crescer e maturar do que um arbusto.
Nós, que praticamos o Xamanismo, temos a responsabilidade de zelar pela Mãe Terra e por todas as suas Crianças, temos a missão da cura planetária, tanto no tocante a qualidade ambiental, como energética e espiritual. Jamais poderemos ser absolutamente saudáveis se vivermos num Planeta doente, nunca teremos paz enquanto irmãos estiverem em guerra, não evoluiremos se não fizermos a parte que nos cabe.


TERRA – SOL – LUA – ESTRELAS


O Sol, a Lua e as Estrelas, segundo Gênesis, são os iluminadores do firmamento, criados para iluminarem a Terra. representam a Luz Criadora, a Luz Refletida e a Luz Revelada. O Sol, participa da criação da Terra, é a Evolução Criadora. A Lua ilumina a escuridão da vontade humana, a matéria. As Estrelas orientam valores e verdades, espaço e tempo.

Mãe – Terra

Sempre temos ouvido notícias sobre a devastação do meio ambiente. O Homem definitivamente perdeu o sentido do Sagrado, esqueceu-se de que a Terra é nossa Mãe. O pior é que desconhece os efeitos das acções irresponsáveis que pratica com a natureza. Não tem consciência do crime que comete por interesses económicos.
E, para isso estamos nós, novamente, para defender nosso Planeta, guerreando silenciosamente, através de preces e vibrações, procurando plantar uma semente de amor nos corações daqueles que não reconhecem sua Mãe, daqueles que lutam por um mundo ilusório, daqueles que não percebem a beleza da Criação.
A melhor maneira de agradar ao Criador, é respeitando, honrando, e preservando a sua Criação.
A Terra é um ser vivo. A Mãe que alimenta todas as criaturas. A Terra supre com suas substâncias nosso corpo físico. Recebe nossos corpos a cada vida e os acolhe a cada morte.
Como toda a mãe, ela provê todas as necessidades de suas crianças, generosamente. Todas as criaturas que andam, nadam, rastejam, correm, voam, insectos, pedras, plantas; também são suas crianças.
Desde que todas as coisas vivas, dividem a vida na Terra com os humanos, nascendo na mesma Mãe Terra, concebidos da mente do Criador, devemos honra-las, conscientes de sua missão no Plano Universal e nos harmonizarmos com todas elas para andarmos em equilíbrio na Nossa Mãe.
u Espaço Sagrado, abrindo o meu coração para o amor incondicional.
Nas minhas orações, não espero que nada caia do Céu, espero colher o que plantei. Aprendi que não somos vítimas de consequências, que podemos construir nosso futuro a partir de pensamentos, palavras e acções. Nenhuma árvore cresce se a Nós, do xamanismo, verdadeiramente amamos a Terra e todas as suas crianças.

Yoel Breves Guerreiro

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Blogue POVO AMERÍNDIO


AGRADECIMENTOS
ao
BLOGUE





Deus está falando com você"

Um homem sussurrou: Deus fale comigo! E um rouxinol começou a cantar, mas o homem não ouviu.


Então o homem repetiu: Deus fale comigo! E um trovão ecoou nos céus, mas o homem foi incapaz de ouvir.


O Homem olhou em volta e disse: Deus deixe-me vê-lo! E uma estrela brilhou no céu, mas o homem não a notou.

O homem começou a gritar: Deus mostre-me um milagre! E uma criança nasceu, mas o homem não sentiu o pulsar da vida.

Então o homem começou a chorar e a se desesperar: Deus toque-me e deixe-me sentir que você está aqui comigo!... E uma borboleta pousou suavemente em seu ombro. O homem espantou a borboleta com a mão e desiludido continuou o seu caminho triste, sozinho e com medo.

Tribos Famosas - Cherokee

Texto transcrito da Wikipedia:

"As nações e grupos cherokee reconhecidos pelo governo dos EUA representam 250 mil pessoas com sede em Tahlequah, Oklahoma, são a Nação Cherokee (Cherokee Nation) e o Grupo Unido Keetoowah dos Índios Cherokee (United Keetoowah Band of Cherokee Indians) e, baseados na cidade de Cherokee, na Carolina do Norte, o Grupo Oriental dos Índios Cherokee (Eastern Band of Cherokee Indians). Também há tribos reconhecidas em nível estadual na Geórgia, no Missouri e no Alabama. Outros grupos relevantes e não-reconhecidos existem no Arkansas, no Missouri, no Tennessee e em outros estados dos EUA.

A grafia "Cherokee" em inglês, acredita-se, é devida à derivação do nome do idioma em sua própria língua, Tsalagi, por meio de uma transposição fonética em Português] (ou, mais especificamente, no dialeto barranquenho, já que o explorador Fernando de Soto era da Extremadura). De Soto teria chamado os tsalagi de "chalaque", que pelo francês derivou em cheraqui, e depois em cherokee. Retornando ao português, o nome do povo e do idioma passou a ser cherokee (com tônica na última sílaba), embora esta grafia às vezes seja incorretamente ignorada e trocada pela versão em inglês.

A língua cherokee não contém o som "r". Assim, a palavra "cherokee" quando pronunciada no idioma original é dita Tsa-la-gi (também pronuncida Jah-la-gee ou Cha-la-gee) pelos nativos, já que estes sons se parecem mais com "Cherokee" na língua original. Um grupo sulista dos cherokees, no entanto, passou a falar um dialecto local com um som de "r" trilado após o contacto com os europeus, tanto franceses quanto espanhóis, no início do século XVIII."




Idioma e alfabeto

Os cherokees falam um idioma da família iroquois que é uma língua polissíndeta escrita com um silabário (alfabeto em que cada símbolo representa uma sílaba inteira, não um único fonema) inventado pelo líder indígena Sequoyah. Acredita-se actualmente que já havia antes um silabário ancestral que teria inspirado Sequoyah a criar o sistema.

Durante anos, várias pessoas escreviam na Internet palavras cherokee transliteradas ou usavam fontes intercompatíveis improvisadas para escrever o silabário. Entretanto, recentemente os caracteres cherokees foram incluídos no sistema Unicode, o que permitiu ao idioma cherokee viver um renascimento linguístico e ter o seu uso ampliado.



História

A Nação Cherokee foi unificada a partir de uma sociedade interrelacionada de cidades-estado no início do século XVIII sob o "Imperador" Moytoy, com a ajuda não-oficial de um emissário inglês, Sir Alexander Cumming. Em 1730, o Chefe Moytoy de Tellico foi designado "Imperador" pelos caciques das maiores aldeias cherokees. Moytoy também concordou em reconhecer o rei da Inglaterra, Jorge II, como protector do povo cherokee. Uma década antes deste tratado, os cherokee tinham combatido o governo da colónia da Carolina do Sul durante vários anos. O título de Imperador Cherokee, entretanto, não implicava tanto poder sobre os cherokee, e o título acabou se perdendo da linhagem direta de Moytoy.

Na época da Guerra de Independência dos EUA (1776-1783), disputas quanto à acomodação de colonos brancos nas terras indígenas, em sucessivas violações de acordos anteriores, levaram vários cherokee a abandonar seu território original. Estes primeiros dissidentes se mudaram para o outro lado do Rio Mississípi, para áreas que depois seriam os estados ianques do Arkansas e do Missouri. Por volta do ano 1800, seus assentamentos estavam estabelecidos nas bacias dos rios St. Francis e White. Mais tarde, havia tantos cherokees nestas áreas que o governos dos EUA acabou estabelecendo uma Reserva Indígena Cherokee no Arkansas, do norte do rio Arkansas até a margem sul do rio White. Vários destes índios removidos ficaram conhecidos como a tribo Chickamauga. Liderados pelo cacique Canoa Arrastada, os chickamauga se aliaram com os shawnee e fizeram ataques contra colónias dos brancos. Outros líderes cherokee que viveram no Arkansas foram Sequoyah, Sapo Fresco e O Holandês.


Curiosidades

A Wikipedia indica, ainda, algumas celebridades norte-americanas que são descendentes dos Cherokee:

* Scott Stapp, cantor
* Rita Coolidge, cantora
* Johnny Depp, actor
* John Nance Garner, deputado pelo Texas e trigésimo-segundo vice-presidente dos EUA
* Chuck Norris, actor
* John Phillips, vocalista do The Mamas & the Papas
* Will Rogers, humorista
* Nokie Edwards, guitarrista norte-americano do The Ventures
* Jimmy Hendrix, guitarrista norte-americano
* Cher, cantora

Os Mandamentos Cherokee

Fonte: http://www.lyndha.com/hxamas/cherokee.htm/cherokee.wav



Trate a Terra e tudo o que nela habita com respeito
(Treat The Earth And All That Dwells thereon With Respect)

Mantenha-se próximo ao Grande Espírito
(Remain Close To The Great Spirit)

Mostre grande respeito por todos os seres
(Show Great Respect For all Beings)

Trabalhem juntos pelo benefício da Raça Humana
(Work Together For The Benefit Of All Mankind)

Faça o que Você sabe que é certo
(Do What You Know Is Right)

Cuide do bem estar da mente e do corpo
(Look After The Well-being Of Mind And Body)

Dedique uma parte de seus esforços para o Bem Maior
(Dedicate A Share Of Your Efforts To The Greater Good)

Seja sempre verdadeiro e honesto
(Be Truthful And Honest At All Times)

Assuma total responsabilidade por seus actos.
(Take Full Responsibility For Your Actions)

domingo, 18 de julho de 2010

Maravilhosos SELVAGENS






 
"Índios, maravilhosos índios! Gosto que se chamem índios. Ao contrário do que muitos defendem, com base no argumento de que são vocês os verdadeiros nativos do continente, desagradar-me-ia que lhes chamassem americanos. Que têm vocês a ver com Amerigo Vespucci? Índios, gosto que se chamem índios, porque o índio traz uma pena na cabeça. Obrigada pelos vossos macios mocassins, que pisavam a terra com ternura. Por usarem arcos e flechas, belo instrumento digno do melhor engenho humano. Pelos vossos tipis, cónica e leve morada de nómadas. Pelas vossas incríveis indumentárias, de franjas aladas. Pelas penas na cabeça que vos tornam semelhantes a pássaros. Pelos vossos nomes repletos de significado. Por terem sido cavaleiros magníficos. Por serem guerreiros-poetas, como só os samurais souberam ser. Pela vossa presença cheia de casta. Os majestosos rostos solares, o porte sacerdotal. Os vossos perfis de aristocracia antiga. Quem poderá rivalizar convosco em beleza e refinamento natural? Pelo vosso grande amor à verdadeira liberdade. Aquela que não precisava de vir consignada na Lei, porque residia no interior de cada um de vós. Por darem valor à palavra, de tal maneira que dispensavam que ela ficasse escrita. Por o vosso fascínio secreto ter povoado o imaginário das crianças de todo o séc. XX. E como a criança que fui me deixa contente por me ter posto sempre ao vosso lado. Por preferir os fracos aos fortes (no sentido - e apenas nesse - em que a força considerada é equiparada à força bruta), os humilhados aos vencedores. Os amantes da liberdade aos amantes do medo. Por ter desejado ser um de vós. Por vos ter desenhado tantas, tantas vezes em longas tardes africanas, como um acto de magia que vos fizesse reviver. Por ter sido em brincadeiras um índio chamado Cavalo Forte, o melhor guerreiro e o melhor caçador do acampamento. Por ter sido o homem de confiança do feiticeiro e o braço-direito do chefe Touro Sentado. Por ter descido o desfiladeiro, só, em busca do bisonte, e regressado com a presa ao círculo dos tipis em volta da fogueira, quando já a noite caíra."

 

Tradição indígena

Sabedoria (quase esquecida) do povo nativo norte-americano

Por Harina Miotto
REUNIÃO DE RESPEITO
Sentados em volta da fogueira, anciãos e guerreiros experientes reuniam-se para tomar decisões que afectariam toda a tribo. Ficar ao redor da Fogueira do Conselho tinha uma razão.
“O poder que move o universo é circular. O céu, as estrelas, o sol, a lua e o planeta são redondos. As estações do ano vão e vêm e a vida do homem também é um ciclo”, afirma Black Elk, indígena lakota, no livro Black Elk Speaks, ditado a John Neihardt em 1932.

Atritos pessoais eram esquecidos –
a comunidade vinha antes do eu. Além do crepitar do fogo que iluminava a noite, ouvia-se apenas a voz de uma pessoa, a que possuía o “bastão-que-fala”. Com ele em mãos, era permitido falar. Quem possuía a “pena-da-resposta” – quando a pedia – poderia responder. Os demais permaneciam calados, pois todo ponto de vista era valioso e merecia ser ouvido. Essa forma de organizar reuniões ensinava o respeito. Ao saber ouvir, além de respeitarmos as pessoas, reflectimos mais antes de falar. E, como parte dos membros era anciã, isso demonstrava a confiança depositada na sabedoria dos mais velhos.LUGAR DE PODER
Os nativos sabiam que tudo no planeta está em interacção. Como explica Noah Seath, mais conhecido como Chefe Seattle, no famoso discurso de 1854: “As flores perfumadas são nossas irmãs, os cervos, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, as seivas nas campinas e o homem, todos pertencem à mesma família. Somos parte da Terra e ela é parte de nós”. E, porque uma coisa está ligada à outra, cada centímetro da terra é sagrado e qualquer espaço pode servir de energização para alguém, explica Jamie Sams, estudiosa da cultura nativa americana no livro As Cartas do Caminho Sagrado.

E quando, por alguma razão, os índios sentiam que um cantinho era mais especial, baptizavam-no de “Lugar de Poder”. Cantavam, tocavam tambores, dançavam, pois acreditavam que assim poderiam atrair virtudes pessoais. “A ligação com a terra favorece a energia necessária para que possamos desenvolver nossos dons, habilidades e talentos naturais”, afirma Jamie.Não por acaso, muitas pessoas procuram lugares na natureza com os quais sentem mais afinidade para relaxar a mente e o corpo: pode ser praia, montanha, cachoeira, perto de uma árvore, no quintal. Pense em um local de que você goste muito. Se ele o ajuda a reflectir e a se sentir feliz, então esse pode ser seu lugar especial.

Os indígenas americanos compartilhavam experiências e agradeciam à natureza por meio de rituais. “Tudo é sagrado para nosso povo”, diz Arvol Looking Horse, indígena lakota e chefe pertencente à 19ª geração de guardiões dos conhecimentos nativos, que vive hoje em uma reserva da Dakota do Sul, nos Estados Unidos.


Os índios americanos realmente eram ambientalistas?

Indio americano.jpgA história tradicional é familiar aos alunos: Os índios americanos possuíam uma profunda afinidade espiritual com a natureza e eram surpreendentemente cuidadosos com o bem estar ambiental.
Segundo um livro popular publicado pelo Instituto Smithsonian em 1991, "A América-pré-colombiana era ainda o Éden original, um imaculado reino natural. Os nativos passavam desapercebidos na paisagem, vivendo como elementos naturais da ecoesfera. Seu mundo, o Novo Mundo de Colombo, era um mundo onde as intervenções humanas eram quase imperceptíveis".

Esta lição nada subtil tenta nos ensinar que, se queremos prevenir uma catástrofe ambiental, nós temos que retomar a sabedoria indígena perdida.






quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os Índios mais uma história REAL

O Índio e o ocidente
Reflexos de duas visões diferentes sobre o mundo

“O homem branco possui uma qualidade
que lhe fez abrir caminho: o irrespeito”
Henri Michaux
1. Preâmbulo
Ultimamente, devido a circunstâncias precisas que o desenvolvimento das análises históricas e sociológicas tornou compreensíveis, novos olhares têm sido lançados sobre as antigas nações índias e o denominado Oeste bravio. Tem existido mesmo uma clara vontade de compreensão por parte de sectores frequentemente muito afastados do que foram e do que representaram, no seu tempo e no seu espaço próprios, figuras no entanto tão divulgadas como Tecumseh, Sitting-Bull, Geronimo ou Quanah Parker. Multiplicam-se, nos Estados-Unidos mas também fora deles, os estudos e os ensaios sobre este e aquele aspecto da vida dos americanos autóctones, os tais que durante muito tempo foram estrangeiros no seu imenso país e que hoje, acantonados em reservas, ainda são objecto de marginalização por parte de especialistas em malabarismos sociais: se o ouro das Black Hills é hoje memória histórica e um pouco folclórica, não o são seguramente – por exemplo – determinados empreendimentos turísticos e residenciais no território Lakota, bem como a exploração petrolífera e mineira nas terras dos Navajos que sobraram.
Passam agora 340 anos sobre o envio, ao rei Afonso de Portugal, da “Carta sobre a condição dos índios do Brasil”, do padre António Vieira; trinta anos sobre a criação do “American Indian Mouvement”, entidade que contra ventos e marés tem procurado defender os índios norte-americanos da espoliação e da calúnia; e cinco anos sobre o pedido de perdão, em nome do ocidente cristão agressor, endereçado aos Índios pelo actual Papa.
Pela permanência no tempo, da primeira; pela constância e firmeza, da segunda; e pela sensatez (ou deveria dizer pela hipocrisia arrivista e melíflua?) da terceira – dedico a estas três entidades a minha intervenção, agradecendo desde já aos presentes o facto de terem vindo gastar um pouco do seu tempo nesta sessão. E, antes de continuar, gostaria de deixar-vos um momento – à guisa de honesta reflexão – com as breves palavras do chefe Lakota, dos oglalas, Luther Standing Bear, que nos diz numa tirada digna de Jean Giono: “As vastas e abertas planicies, as belas colinas e as águas que em meandros serpenteiam, não eram aos nossos olhos, “selvagens”. Só o homem branco via a natureza como selvagem e para ele a terra estava infestada de animais “selvagens” e de gentes “selvagens”. Para nós ela era mansa, caritativa e nós sentíamo-nos rodeados pelas bênçãos do Grande Mistério. Só se tornou para nós hostil com a chegada do homem peludo vindo do Leste, o qual nos oprime, bem como às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças insanas e brutais. Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava, que para nós começou o Oeste Selvagem”.
Finalmente e uma vez que a etnografia dos índios norte-americanos é hoje uma ciência puramente histórica, talvez faça sentido reter uma frase de Jean Jaurès que reza:” Do passado, apoderemo-nos do fogo e não das cinzas”.
2. Breve apresentação do índio norte-americano e seu espaço específico
Mais ou menos a partir de 1891, passado cerca de um ano sobre o massacre de Wounded Knee perpetrado pelo exército americano sobre os sioux oglalas liderados pelo chefe Big Foot, começou a falar-se em certos círculos de Leste sobre o “problema índio” remanescente. Alguns americanos mais sensíveis às condições em que as outrora poderosas nações índias eram obrigadas a viver, as contínuas tentativas de retirarem aos autóctones o resto dos territórios, transformados em reservas, que ainda estavam na sua posse sem contudo na prática serem por eles controlados, tinham despertado em alguns – escritores, publicistas ou simples particulares – uma espécie de remorso misturado com uma boa dose de má consciência. A seu ver, haveria um triste problema índio, que consistiria em factos existentes a partir da tentativa de genocídio e no claro etnocídio praticado contra a nação índia no seu todo. Esta denominação, nação índia, era sem dúvida reflexo – atravessado por um certo humor negro involuntário, a despeito das eventuais boas intenções – dos ecos que lhes chegavam, com meio século de atraso, da aliança formada pelos cherokees, choctaws, seminoles, creeks e chikasaws e que funcionou durante algum tempo, antes dos seus membros serem definitivamente enviados para lá do Mississipi, como uma “nação doméstica” no interior da outra.
Com diversas variantes, sulcado por diferentes contradições, este estado de espírito tem-se mantido até aos nossos dias.
Num lúcido ensaio publicado no início dos anos setenta, o escritor francês Claude Roy escreveu com a sua agudeza proverbial que, a seu ver, havia não um problema índio mas sim um problema branco, ou seja: um problema ocidental que através do tempo se comunicara às etnias das diferentes latitudes. E isto porque, como o sublinhou noutro texto o escritor de ascendência Lakota (Sioux) Vine Deloria, o que se passou com os índios norte-americanos revela na perfeição o deficiente sistema societário engendrado pelo homem ocidental, cuja mentalidade cúpida foi um facto infelizmente indesmentível, ainda que camuflado sob o pretexto da evangelização ou da vontade de civilizar.
Estas opiniões são, parece-me, equilibradas e defensáveis. Contudo, é evidente que existe na prática um problema índio, assim como houve um claro choque de mentalidades resolvido de forma expeditiva pelos que, chegados ao Novo Mundo, resolveram tomar conta de tudo como se os índios fizessem apenas parte da paisagem ou das chamadas riquezas naturais.
Choque de mentalidades, repare-se. Ou seja, choque conceptual – para além do choque físico que deu origem a conflitos sangrentos, depredações e, finalmente, claro genocídio.
Mas antes de abordarmos a maneira de viver e conceber o mundo do Índio, convirá termos uma ideia, ainda que algo sucinta e esquemática, sobre o universo em que este se movia, além dum leve voo sobre eventos históricos.
Será de considerar, desde logo, que os colonos que a partir de 1628 iniciaram de forma marcada a sistemática invasão dos territórios índios, a partir do posto avançado de Charlestown, eram membros de seitas religiosas, nomeadamente da dos puritanos, cuja existência nos seus países de origem, devido a perseguições e marginalizações, se tornara problemática. Desapossados dos seus haveres, chegados em petição de miséria,  o que muito confrangia os índios, transportavam consigo, contudo, um terrível vírus – hábitos, preconceitos e filosofias de vida e ainda uma vontade sistemática de reconstruírem nessa América desejada o que não tinham podido conservar na terra de origem. Em vez de aproveitarem a oportunidade que se lhes deparava de erguerem um outro modo de viver, sem constrangimentos (como muitos trappeurs franceses fizeram) reproduziram os hábitos e os tiques comunitários do Velho Mundo que tão mal os estimara e aonde os índios eram, naturalmente, corpos estranhos perfeitamente sem lugar a não ser que renunciassem ao seu tradicional tipo de vida para se converterem aos usos e costumes dos brancos, com sua soma de incongruências. Além do mais, como foi logo percebido desde que Colombo pôs pé em terra, não era possível serem domesticados e só muito poucos – e mesmo esses geralmente em desespero de causa – abraçavam a religião que lhes chegava da Europa desconhecida. Assim,  após terem-se dado conta da irredutibilidade índia, os colonos introduziram de pronto em 1619, em Jamestown, a escravatura negra. Quanto aos índios, que recusavam acerbamente os trabalhos forçados – e tivera-se, meridionalmente, um bom exemplo com os pueblos, a contas com os espanhóis – a resposta era-lhes dada na ponta das espingardas.


Uma das características com que deparamos ao contactarmos com a Nação Índia, é a diversidade e complexidade desse mundo, num acervo poderoso e multifacetado que chega a comover-nos dado que é mester apelar para a memória. Apesar de serem relativamente poucos se atentarmos na imensidade do território que ocupavam – segundo os estudos de ponta de Horst Hartmann, dois milhões e oitocentos mil no espaço que vai da região sonoriana até ao território subártico – os índios estavam divididos em cerca de seiscentas nações principais, subdivididas por sua vez em milhares de tribos. Hoje tem-se como certo que teriam atravessado o Estreito de Bering em diversas vagas constituídas por grupos de escassas centenas há cerca de vinte cinco mil anos, multiplicando-se depois por todo o continente. Especialistas há que os classificam por famílias linguísticas, nada menos que 21, além de 32 línguas isoladas que desafiam a classificação em qualquer daquelas 21; outros, devido a problemas que não caberá aqui invocar, mas que são efectivamente de considerar, preferem classificá-los por nações (algonquinos, mississipianos, cadoanos, ute-aztecas, etc.) ou por regiões específicas (pacífidas, centrálidas, sílvidas, márgidas…). Seja como for, assentemos em que, tal como é dito por Frank Schoell, “os índios que os colonos foram encontrar no século dezasseis e nos que se seguiram eram mais ou menos agricultores, mais ou menos caçadores, mais ou menos pescadores consoante os diversos imperativos do seu meio geográfico”. Podemos pois distribuí-los, de acordo com estes imperativos, por cinco zonas relativamente distintas: a zona do milho, da costa atlântica ao Mississipi e no sul entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas; a zona do bisonte, norte e centro da região entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas; a zona do caribu, norte do actual Minnesota, Dakota setentrional e actual Canadá; a zona das gramíneas, Califórnia, Nevada e parte oeste do Utah; e a zona do salmão, costas da Califórnia do norte, do Oregon, de Washington e do Alasca. Cada conjunto de nações, divididas em tribos, exprimia de maneira própria as concepções religiosas e mágicas – e de alguma maneira filosóficas – formadas a partir de tipos de vida específicos; no entanto, havia uma constante comum: o relacionamento muito profundo com a natureza, com as realidades e os fenómenos que os rodeavam e aos quais emprestavam frequentemente significados originais. Recordemos, a talhe de foice, a rica cosmogonia dos Denes e dos Delawares, entre muitas outras possíveis. O imaginário do índio, manifestado em conceitos e objectos artísticos que tocam o surreal, tinha muito a ver com aquilo que no ocidente, principalmente a partir de meados do século dezoito, se convencionou chamar poesia. Mas na segunda parte deste texto concretizaremos este ponto.
Há – e chamo a vossa atenção para este facto – dois períodos perfeitamente definidos na vida índia: o antes e o depois  da chegada do homem branco. Com a colonização, além de tribos inteiras terem sido exterminadas (chesapeaks, powhatans, tainos, mohicanos e outros, tantos outros) outras alteraram radicalmente o seu way of life: por exemplo, a introdução do cavalo – que estranhamente se extinguira no continente – efectuada pelos espanhóis, determinou a passagem da vida sedentária para o nomadismo e semi-nomadismo, com o consequente estabelecimento de novos territórios de caça e alianças precárias ou firmemente cimentadas, principalmente dos chamados índios da pradaria (Plains): lakotas(sioux) teton, oglalas e yanktonai, pawnees, cheyennes do norte e do sul, kiowas apache, comanches, arapahos, apaches do norte, etc.
Convirá referir, igualmente, que a implantação europeia se deu através de cinco nacionalidades: a implantação espanhola (primeiro na Florida, depois avançando para o norte até à Carolina, Mississipi, Oklahoma, Colorado, Novo México, Kansas; mais tarde, 1602-1603, até à costa da Califórnia); a implantação francesa (curso do rio S.Lourenço, depois até ao Canadá – Nova França); a implantação holandesa (Delaware, Hudson, Long Island e ilha de Manhattan); a implantação sueca (estuário do Delaware, Trenton e o cabo Henlopen); a implantação inglesa (Virgínia, Massachussets, Rhode Island, etc.).
Há sensível diferença na forma como foram tratados os índios das diversas zonas de influência, apesar de a partir da formação dos Estados-Unidos e da Constituição de 1787 a palavra de ordem fosse retirar das mãos dos índios, mediante todos os meios possíveis, a terra que habitavam, afastando-os paulatinamente para oeste – o que descambaria no tristemente célebre conceito do destino manifesto, expressão cunhada pelo jornalista mercenário Horace Greely com as consequências funestas que se adivinham. No espaço controlado pela França e durante o tempo em que os “flentchi”, nome pelo qual as tribos índias conheciam os franceses, foram o principal contacto com os autóctones na extensão territorial à época denominada Louisiana, vasta zona entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas, para norte até ao Oregon e às regiões meridionais do Canadá – Alberta e Colúmbia – depois vendida por tuta e meia (15 milhões de dólares…) em 1803, pelo empenhado Napoleão aos EUA, houve um clima de boa vizinhança. Conforme escreve Herbert Wendt, “embora houvesse brigas e desentendimentos, o período francês foi, de modo geral, intermezzo romântico na história da colonização da América, no seu todo rude e sanguinário(…) Os caçadores franceses, desde o início, estabeleceram relações de amizade com os índios. E eis que descobriram, maravilhados, que os homens descritos nas crónicas espanholas e inglesas como sendo peles-vermelhas sanguinários, eram na realidade homens hospitaleiros, comerciantes honestos e amigos fiéis. Os franceses percorriam campos e florestas em companhia dos indígenas, sentavam-se com eles em torno das fogueiras e, muitas vezes, tornavam-se índios. Muitos caçadores franceses procuraram ser integrados como membros das tribos índias, dançavam as suas danças guerreiras, usavam os seus mocassins, pintavam o rosto à maneira índia e casavam com squaws. Os índios, por sua vez, como disse um dia um cacique chippewa, ‘com os franceses sentimo-nos como se fôssemos uma só família’. A capacidade de adaptação dos pioneiros franceses chegava, por exemplo, ao ponto do general Frontenac não ter dúvidas em dançar em torno dos totens e das fogueiras usando o uniforme de gala cheio de condecorações, o que muito encantava a assistência”.


Tal devia-se, manifestamente, ao facto de os franceses possuírem maior abertura filosófica e social, ao próprio carácter gaulês alegre e algo rabelaisiano – leiam-se as “Mémoires d’un trappeur” do pinturesco Jean de Raimond , dito o “Cauda-de-Lontra” e ficará feita a verificação – e, por outro lado, ao especial cuidado posto por estes no seu relacionamento com os autóctones, tendo em vista os seus conflitos com a Inglaterra. No entanto, isso não os impediu de atraiçoarem, faltando à palavra dada, os guerreiros hurons aquando do cerco de Detroit, o que determinou uma inflexão decisiva na sua guerra com os iroqueses. Os índios, aliás, não tinham papas na língua, quando se tratava de responder a quem tentava arteiramente evangelizá-los. Certo dia, eis como alguns hurons responderam a um missionário francês que procurava convertê-los:”Queres discutir connosco sobre a alma e, no entanto, nem sequer sabes como capturar um castor!”.
A dominação espanhola e inglesa assumiu foros de maior crueldade e violência não só porque os seus interesses eram mais agudos (num caso a febre do ouro, noutro a febre de estabelecerem enclaves) mas também porque a mentalidade índia diferia absolutamente do fanatismo castelhano e da frieza anglo-saxónica. Panfilo de Nervaez, depois seguido por Vasquez de Coronado, que no primeiro quartel do século dezasseis atravessaram a Carolina, o Arkansas e o Arizona, perseguiam e abatiam índios inofensivos que vinham contemplar a passagem das tropas, apenas para “hacer la gracia”, ou seja, para se adestrarem em jogos marciais. A dominação inglesa foi perita em explorar e estimular as rivalidades tribais, compelindo os seus circunstanciais  aliados a exterminar os rivais – o que teve pleno êxito na guerra anglo-francesa, na qual os iroqueses deram cabo de praticamente todos os hurons.
Já referímos que mohicanos mas também eries, pequots, miamis, mohawks, etc., foram dizimados através das armas convencionais e de epidemias, rapidamente disseminadas porquanto o sistema imunológico do índio não estava activado para lhes responder. E era o homem branco, com uma estranha caridade de cepa cristã, quem lhe fornecia mantas infectadas que – repare-se na requintada qualidade do cinismo – trocava frequentemente por boa quantidade de peles ou de belos produtos do solo.


Concretizando o que atrás disse: a diferença de métodos na colonização assenta no facto de que os espanhóis eram movidos pela caça ao ouro, efectuada em tons pomposos (note-se que tinham tido uma gratificante experiência com os incas e os aztecas) dado que a corte espanhola e os seus áulicos e apoiantes, imersos em complicados jogos de interesses internacionais, necessitavam desesperadamente do metal amarelo para a sua política  imediata e de curto prazo. Não podendo atingir o mítico El Dorado e as Sete Cidades de Cíbola, miragem fabulosa criada por um relato propagado pela imaginação desenfreada de um frade empreendedor e um pouco mitómano, frei Marcos de la Renta, que interpretara à sua maneira boatos que circulavam entre os aventureiros – e que haviam sido postos a correr pelos índios para lhes dispersarem a atenção e os confundirem – os espanhóis foram compelidos pelas condições hostis da região e das tribos, muito aguerridas (nas quais se destacavam os apaches) a acolher-se aos seus primeiros domínios; seriam mais tarde os mexicanos (mestiços descendentes dos invasores castelhanos) quem retomaria o afrontamento de pimas, yaquis, apaches e navajos (assim crismados devido às enormes navalhas de combate que utilizavam), isto numa primeira fase antes da anexação americana.
No que se refere à Inglaterra, interessava-lhe efectivamente o estabelecimento de feitorias, à guisa de testas-de-ponte donde partiriam para a conquista de outros territórios visando um estacionamento perene. A consequência inevitável era o extermínio ou a férrea sujeição dos autóctones, assim que se sentiam bem escorados nos postos que proliferavam.
Quanto à França, manteve sempre uma certa distanciação em relação à América – fosse na Nova França fosse, mais tarde, na Louisiana – imensidão territorial que o senhor de La Salle vistoriara. É bem conhecida a opinião de Voltaire, por exemplo, que considerava o Canadá uma espécie de frigorífico onde os concidadãos iam perder o seu tempo. A verdade é que, à França, interessava fundamentalmente a implantação de feitorias onde pudessem dedicar-se ao comércio das peles: quem dominava a colonização eram as “societés”, controladas por nobres negociantes astutos. Além disso, à coroa francesa – que na altura lançava olhares cobiçosos noutras direcções – não interessava imobilizar contingentes militares consideráveis a milhares de quilómetros de casa, policiando terras que a seu ver nenhuma falta lhe faziam. E foi este atraso mental dos monarcas gauleses que permitiu uma melhor respiração aos territórios sob o seu domínio. É também isso que explica – para além de casos decorrentes da estratégia político-militar – as cedências finais durante o violento confronto posterior com os britânicos para controle dos territórios de nordeste.
Em 1825, 1831, 1841 e 1848 iriam ocorrer certos acontecimentos-chave que definitivamente afastariam a possibilidade das nações índias do oeste próximo e, mais tarde, longínquo sobreviverem, tanto mais que os índios – com uma única excepção, como já se aludiu anteriormente – nunca haviam encarado a formação de um Estado, cuja concepção moderna lhes era aliás alheia e desconhecida (hoje é manifesto que os chefes das denominadas cinco nações civilizadas tinham uma concepção de nação inteiramente diferente dos ocidentais). E essa “organização” de tipo libertário, assinale-se,  foi uma das causas – senão a principal! – da fragilidade da Nação Índia frente aos hierarquizados, normalizados e metódicos invasores.
Esses acontecimentos foram: l. A abertura do canal Erie, que escancarou sem retorno as comunicações entre o Leste e o Middlewest, estimulando ainda o desenvolvimento comercial e industrial da região dos Grandes Lagos, ou seja Buffalo, Cleveland e Chicago; 2. A invenção, por Cyrus McCormick, da ceifeira-debulhadora, de que resultou que em poucos anos centenas de milhares de hectares, onde então pastavam milhões de bisontes, fossem transformados em campos cultivados; 3. A construção da Erie Railroad, que permitiu o desbloqueamento das passagens para Oeste; 4. Finalmente, a descoberta do ouro da Califórnia na herdade de Johannes Sutter, o que causou uma devastadora corrida às minas, com milhares de desenraizados e aventureiros a atravessarem as pradarias e as Montanhas Rochosas em caravanas ou em simples bandos, depredando a flora e a fauna – abatendo indiscriminadamente bisontes, que constituíam a base da alimentação dos Plains – com os consequentes levantamentos e as guerras índias  protagonizadas pelos arapahos, kiowas, cheyennes, crows, lakotas, shoshonis, flatheads, etc.; mas o ouro era então fundamental, tanto mais que em 1836 o secretário do Tesouro Richard B.Tanney, com a pronta anuência do Presidente Jackson, emitira a Circular das Espécies nos termos da qual, para a aquisição de terras, o governo só aceitava pagamento em ouro e não em notas de banco.
Era o princípio do fim – do fim sórdido, inútil, lamentável. Mas, neste relance em torno da História, fiquemo-nos por aqui.
3. O Índio norte-americano e o seu relacionamento com o Imaginário
“Se não maltratardes o povo vermelho, mas o tratardes com justiça, podereis ganhar a sua amizade; pois ele possui profundos conhecimentos do que é bom e do que é mau”
William Penn

Ao contrário do homem ocidental, que concebe o mundo como representação abstracta no plano filosófico e como entidade absolutamente dependente no plano metafísico, o índio relacionava-se com a existência pela analogia. O que, se possibilitava naturais erros de avaliação, como por exemplo em relação às verdadeiras intenções do homem branco, que buscava não a utilização das terras mas a sua posse, mesmo que tivesse de massacrar os seus detentores, garantia de igual modo, no mundo físico que habitava, uma integração harmoniosa e um genuíno gosto de viver que só foi alterado pela arrancada branca. O universo do índio, mais que um universo mágico era um universo poético. Ou, por outras palavras: o índio realizava no quotidiano a maneira de ser proposta, no quadro ocidental, pela Poesia e a vida que esta, a ser vivida, exemplificaria. Mais que animistas, os índios eram entes ancorados num quotidiano vitalista que a cada passo lhe fornecia exemplos e imagens construídas e nascidas da imaginação prática (ou deveria dizer praticada?), que é o que o poeta, no bisonho e entorpecido mundo ocidental dominado por classes, tenta plasmar nas suas construções imaginativas e verbais. (Há só uma excepção: a proposta pelos mestres alquimistas, que como perspicazmente assinalou André Breton, espiritualizavam a matéria e materializavam o espírito, escapando assim ao controle do “pensamento oficial”. Como mais uma vez Horst Hartmann referia, os índios não estabeleciam qualquer diferença de base entre sonhos e visões, por um lado, e realidade (a dita realidade palpável) por outro; e isto, é claro, não porque não soubessem distinguir entre uma e outros mas porque ambos tinham o mesmo valor indicativo. Devido a isso, duma forma que a canalhas ou imbecis pareceria ingénua, respeitavam o solo, os rios, os animais e mesmo os guerreiros com quem se defrontavam. Viam-nos como parte dum todo a que estavam ligados, eram protagonistas duma existência recheada de significado (nunca houve índio que bolsasse insanidades como, por hipótese, uma tal crise de identidade…). Nesta conformidade, a “religião” índia deve ver-se como aquilo que de facto era: prática efectiva de ligação a um universo onde as coisas aconteciam por razões porventura misteriosas mas repletas de sentido -  ao contrário da ocidental, que assenta na re-ligação; com efeito, não possuindo mitos de queda e de culpa, para que necessitaria o índio de se re-ligar ao que quer que fosse? – devido a uma dialética e a uma dinâmica que tinha a ver com uma existência não-precária e frequentemente atingida pelo senso da plenitude. Assim, é perfeitamente descabido , quando não pura impostura ou sonoro desajuste falar-se em deuses a propósito do índio norte-americano (norte-americano, sublinho) – ou, como o fizeram durante muitos anos os melífluos missionários que o ocidente lhes punha à disposição, amparados pelo cacete papal, manobra que caucionava a repressão. O índio cria num grande mistério, o que se poderia traduzir por a coisa sagrada em termos ocidentais e exprimia o sentido do sagrado, em termos poéticos, que eles sentiam existir em tudo e que a seu ver envolvia a existência e era, por seu turno, permeabilizado por ela, estabelecendo uma ponte directa e bem prática entre o mundo e o transmundo das coisas e dos seres – vistos, pensados e sonhados. Esse grande mistério ou grande medicina, encarnava se assim podemos dizer de nação para nação – como o wakanda dos Lakotas (yanktonais, santees, oglalas, tetons e yanktons) e Cheyennes ou o manitu dos povos do nordeste – em entidades diversas, palpitando de actividade no quotidiano da tribo e que atravessavam a realidade circundante. Os animais tutelares ou totens eram assim como uma estima do coração e não deuses benevolentes ou maléficos e muito menos presenças metafísicas que se intrometiam na sua vida, como sucede no ocidente, onde o poético, o espiritual e o físico estão inapelavelmente compartimentados da triste maneira que se sabe e se sente. O índio tinha um comportamento epicurista ou estóico conforme as circunstâncias da vida quotidiana: era grave mas não taciturno; alegre mas não descabelado. E isto porque não era perseguido pela descontinuidade característica da circunstância judaico-cristã, agravada pelos ritmos instaurados pela revolução industrial. Apesar da sensível e por vezes rude discriminação que sobre os índios de agora ainda incide, estimulada pela política económica das Companhias – o que pudemos constatar tanto na região plain (Dakotas e Nebraska) como no Canadá da tolerância e da polidez (grande península georgiana, ou seja na região huron-iroquesa dos lagos Huron e Ontário) -  as reservas índias, mau grado os problemas instilados pelos “white-eyes” são comparativamente locais onde pulsa a luz do espírito que só raramente se sente entre as populações urbanas da América not coloured. Pode dizer-se com ironia deliberadamente cruel que o cuspo que os colonos atiraram para o ar, nos tempos da sujeição dos índios, recai-lhes agora na face como um aguaceiro mefítico.

Não sendo um ser amedrontado, o índio nenhuma necessidade tinha de procurar aplacar espíritos bons ou perversos, como sucede noutras civilizações. Claro que se alegrava ou inquietava, mas a exemplo do que sucede no acto poético -  em que os terrores são terrores pela sua própria condição bem assim como os contentamento -  consoante os sinais que distinguia no decorrer da existência. Os mortos inquietavam-no porque ele sentia que o reino da morte era doutra quotideaneidade, mas podiam também alegrá-lo: não era invulgar um índio chegar ao lar e manifestar a sua alegria por ter, numa jornada de meditação (em geral apoiada em jejuns) sido contemplado com o aparecimento dum parente, dum animal doméstico muito estimado, etc.; note-se ainda como exemplo que entre os Plains eram ciclicamente efectuadas danças rituais para facilitar ou possibilitar a vinda das manadas de bisontes e não para comunicar a um determinado deus (animal ou de tipo humanóide…) que já era tempo de se pôr ao trabalho e encaminhar os rebanhos para junto dos territórios de caça (sempre bem estabelecidos por consenso milenar). O totem possuía portanto um valor de ligação e não de adoração. O índio não possuía ritmos de adoração, encarando esta palavra como bajulação a uma entidade supostamente superior ou desencarnada. No que respeita aos denominados homens-medicina (e não feiticeiros, designação que apenas faz parte do vocabulário branco veiculado pelas fitas de Hollywood) que noutras comunidades tomam em geral a designação de sacerdotes ou orientadores espirituais conforme a latitude ou a civilização, eram curandeiros um pouco à maneira dos homens-de-virtude da região ibérica, ou aconselhadores qualificados que, em certas ocasiões determinadas por condições muito próprias, tomavam o cargo (espontâneo e circunstancial e sempre amovível)  de chefes específicos que emergiam do quotidiano da tribo e não se empenhavam em ter mais ou menos influência, o que seria impensável pela lógica da organização do tecido social. Para aclarar melhor a questão: o justamente famoso – pela ponderação e a coragem – Sitting Bull, era homem-medicina e a consideração de que gozava no seio da tribo era tanta que assumiu o cargo de sachem (chefe geral) dos lakotas, que tinham como chefe-de-guerra o não menos célebre Cavalo Louco, que era evidentemente tudo menos louco – o nome vinha-lhe de ter capturado bravamente um garanhão enfurecido em condições peculiares. Os nomes, entre os índios, eram não só um indicativo mas também um qualificativo. Fazendo um pouco de humor, digamos que se calhar o nosso “bochechas”(Mário Soares), se índio fosse, teria talvez o nome de Urso Aldrabão ou, quiçá, Castor Vaidoso ou Arganaz Sedutor… Mas passemos adiante!


Os homens-medicina, fossem chefes ou não, acompanhavam o dia-a-dia, orientavam as festas e os rituais (de colheita, de caça, de mudança de estação ou de localização da tribo) eram de certa forma o garante dos grandes ritmos que presidiam à relação entre o conhecido e o desconhecido. Por vezes funcionavam como diplomatas inter-tribos e, nalgumas que em ocasiões sacrais utilizavam alucinogénios (como entre os pimas e os yaquis) interpretavam as visões daí decorrentes. Note-se que os índios usavam de preferência jejuns e períodos de isolamento em lugares específicos: montanhas, bosques e recantos junto a rios, no caso dos índios do sudoeste orlas de desertos (jamais se adentravam pelo deserto, como fizeram no último período da romanidade as comunidades de cenobitas cristãos do norte de África), onde buscavam ser contemplados com revelações em ordem a compreenderem o mundo e o seu Eu profundo.
Quanto aos chefes, que como já se aflorou podiam ser chefes-de-guerra ou civis, estavam rigorosamente dependentes dos conselhos tribais e, se eram sempre acatados e respeitados, uma vez que emergiam naturalmente da comunidade, funcionavam mais como consciência da nação do que como líderes cuja palavra não era passível de discussão. Só numa circunstância tinham de ser rigorosamente seguidos: quando em estado de batalha – e os próprios conflitos, como a palavra batalha deixa perceber, eram de âmbito limitado, sendo fundamentalmente sustentados por grupos. Mesmo quando uma nação era tradicionalmente inimiga de outra, como os sioux e os pawnees por exemplo, não se buscava a extinção do adversário e o feito guerreiro tinha fundamentalmente a ver com a qualidade e não com a quantidade. Lutava-se pela honra, pela coragem, pela vingança de injúrias ou pelo abuso da entrada em territórios de caça ou utilização. A posse destes últimos estava dependente do uso que lhes era dado pelo colectivo e, portanto, não era encarada como exaustiva e total. Nunca passaria pela cabeça de um índio dizer este sítio é meu, pois entendia-se que apenas aprouvera ao grande mistério possibilitar que a tribo dispusesse dele a seu efectivo bel-prazer. Em geral, os índios norte-americanos eram anarco-comunistas, ou melhor: socialistas libertários, o que os distinguia das monarquias totalitárias ou de claro enfoque do que depois se chamaria nazismo (por exemplo os aztecas) das nações da América central.

Grande parte da civilização ocidental assenta num intrincado jogo de efusão/recalcamento (para usar a terminologia freudiana) que estimula o desejo de acumulação. Ao frustrar pulsões legítimas, o sistema relacional ocidental e cristão (a este respeito sugerimos a leitura de “A neurose cristã” de Pierre Solignac) distorce o pensamento e dá origem à necessidade de posse dos bens, que tudo arrasta na sua frente (o que é caracterizado pelo axioma “uso e abuso” que define o conceito de propriedade). A mística recorrente é, em geral, apenas uma fórmula – e, em rigor, hipócrita e falsa – para tentar impedir que as consequências vão demasiado longe ou, então, para camuflar o que sub jaz aos manejos dos sectores dirigentes e possidentes. Nunca passou pela cabeça do índio, antes da dura realidade o esclarecer, que o branco quisesse para exclusivo uso seu e para fins que ao índio pareciam providos da banal loucura – isto é textual, é um raciocínio dum líder chikasaw, Braço-de-pedra – o vasto território que lhe parecia sem fim e onde as nações índias viviam harmoniosamente devido à arquitectura forjada pelos milénios. Estabilizada por anos e anos de sucessivo aperfeiçoamento que a vastidão e a riqueza do continente permitia, a vida do índio estava recheada de sentido. A vida era por vezes dura, mas sempre se revelava gratificante. Interiormente, o índio interrogava-se mas não se enrolava sobre si mesmo e, se muitas vezes se angustiava, como ser humano que era, as ricas relações no interior da comunidade encarregavam-se de aplacar ou dissolver essa palpitação negativa. Nas tribos do nordeste e da costa atlântica, que foram as que primeiro sofreram a brutalidade do invasor, o choque entre a sua mentalidade libertária e a obstinação primária dos colonos foi o sinal claro do que a seguir iria suceder, uma vez que a terra não era para o índio um corpo político e sim um lugar onde residia com as árvores, os animais, as montanhas, a chuva e o deserto, em suma: tudo aquilo que constituía o mundo de realidade e de sonho onde não fora instaurado o complexo de culpa que constitui uma das bases fundamentais do pensamento religioso ocidental e, inevitavelmente, o seu cerne filosófico. Para o índio norte-americano a morte não era, como para o cidadão europeu, uma essência e sim uma cessação. Nunca uma imanência, antes uma consequência bem reconhecível – uma facada, um tiro, uma doença ou a muita idade. Arguto, encarava por isso a protérvia judaico-cristã como uma história absurda ou uma impostura. E por isso mesmo o seu mundo conceptual, extremamente perigoso para o que lhe chegava abruptamente, tinha de ser destruído pelo homem branco.

Assim sendo, é fácil tirar a conclusão maior destas linhas e a única para que chamo vivamente a vossa atenção: sempre que uma civilização baseada na tradição secular livremente engendrada se confronta com outra baseada na evolução acelerada e na acumulação, a primeira desaparece ou é gravemente transformada pela segunda.
Significa isto que, ao cabo,  a sorte da Nação Índia estava traçada no momento em que Colombo pôs o pé nas praias do Novo Mundo. O índio, que vivia no neolítico mas que apesar de tudo mostrou uma espantosa capacidade de adaptação interior – e mesmo exterior, convenhamos -  a ritmos que lhe eram totalmente alheios, conceptualmente estava mergulhado no chamado estado segundo ou seja, o mundo mental em que realidade e sonho se interpenetram, estado esse que é profundamente odiado pelos próceres da civilização ocidental, que apenas respeitam ou a Razão ou o instinto de posse camuflado de necessidade espiritual (vulgo religião, que é apenas e tão-só, se nos despirmos de preconceitos ou receios, um polo agregador de interesses psico-sociais). É esse estado segundo que explica a curiosidade que os autóctones americanos sentiram pelo álcool, o que foi de imediato explorado pelos colonizadores. Como o álcool lhes permitia/facultava atingir um estado de euforia – que, diga-se, excelsos poetas gregos e árabes epigrafaram com volúpia (será necessário nomear o justamente célebre “Rubayat” de Omar Khayam?) – que eles pensavam ser um ritmo dos brancos, deixaram-se defraudar pelos colonizadores, que estimulavam cinicamente o alcoolismo. Chegou-se a um ponto tal que em certas tribos do Middlewest e do Oeste houve a necessidade de os conselhos tribais interditarem rigorosamente o seu consumo, chegando-se a estabelecer (e é um dos poucos casos em que tal ordálio se aplicava) a pena de morte, punição raríssima entre os índios visto que em geral era substituída por obrigações de doação. Entre os Plains, o álcool era mesmo considerado como mais uma arma de guerra por parte dos brancos.
A nação índia, no seu todo, desapareceu para sempre. Nobre e orgulhoso gavião planando sobre montanhas e florestas, viu o seu voo destroçado pela gente que a princípio auxiliara. Espoliada, caluniada, utilizada em divertimentos de pacotilha – mas também respeitada, compreendida e amada por ocidentais que sabem ser índios na selva urbana – é hoje não mais que recordação, uma vez que se desfizeram as raízes que a sustentavam: o território onde se estabelecera o equilíbrio harmonioso entre a natureza e o homem.
Hoje em dia, habitantes que somos de universos alternativos e, ultimamente, até interactivos, resta-nos somente uma certa nostalgia – mas igualmente, afinal, a arma de sabermos que é possível viver-se, mais que não seja por dentro, de maneira menos precária do que a vida (?) que foi criada, consentida e consolidada pelos europeus filhos do Método e da Mística da navegação entre Cila e Caríbdis ou, o que ainda é pior, das correrias entre Zeus e Mamón…
Bibliografia de apoio
História dos Estados-Unidos -  Frank L. Schoell
Enterrem o meu coração na curva do rio – Dee Brown
Introdução à poesia – Johannes Pfeiffer
Tudo começou em Babel (edição brasileira) – Herbert Wendt
História da morte no ocidente – Philippe Ariès
Os índios da América do norte – Horst Hartmann
O primeiro americano – C.W. Ceram
Os nativos americanos – D.Thomas, Jay Miller, etc.
Undaunted courage (não publicado em Portugal) – Stephen E. Ambrose
Art et Alchimie (não publicado em Portugal) – Justin von Lennep
A queda de Custer – David Humphrey Jennings
La lampe dans l’horloge (não publicado em Portugal) – André Breton
Custer died for your sins (não publicado em Portugal) – Vine Deloria
The west (não publicado em Portugal) – Geoffrey Ward
Os deuses do homem pré-histórico – Johannes Maringer
Os deuses antigos – E. O. James
American indians miths and legends (não publicado em Portugal) – Richard Erdoes e
Alfonso Ortiz
As origens do cristianismo – J.G.Davis
Eros e religião (edição brasileira) – Walter Schubart
Revistas avulsas: Anthropos (EUA) e Sphinx (Inglaterra).
ANEXO
Obras cinematográficas
Além do filme de Kevin Costner “Dança com lobos”, que para muitos representou o primeiro contacto com o índio enquanto ser humano enraizado, diversas películas têm apresentado o ambiente índio, antigo ou moderno, com suficiente credibilidade ou mesmo de forma superior. Independentemente do seu perfil artístico, que é evidentemente variável, considera-se que as seguintes são obras de base. E felizmente quase todas se encontram disponíveis em vídeo.
Nota – O sinal (.) indica obras referentes à época actual.
Asas de águia – realizado por Anthony Harvey
O grande combate – John Ford
O último guerreiro – Harry Hook (.)
O homem chamado cavalo – Eliot Silverstein
O clã dos guerreiros – Franc Roddam (.)
Desforra apache – Michael Winner
O pequeno grande homem – Arthur Penn
O soldado azul – Ralph Nelson
A fuga de Ulzana – Robert Aldrich
Chuka – Gordon Douglas
O vento negro – Errol Morris (.)
O vale do fugitivo – Abraham Polonsky (.)
Mohawk – Kurt Neuman
A flecha quebrada – Delmer Davis
Grayeagle – Charles Pierce
O rio das penas – Gordon Douglas
A última caçada – Richard Brooks
Coração de trovão – Michael Apted (.)
Terra bruta – John Ford
O último bravo – Donald Shebib (.)
Comanche station – Budd Boeticher
O guerreiro do vento – Keith Merril
Tecumseh – Larry Elikan
Espírito guerreiro – René Manzor (.)
O mundo não perdoa – John Huston
A flecha sagrada – Samuel Fuller
A pena branca – Robert Webb
O último apache – Robert Aldrich
Geronimo – Walter Hill
Estrada da fortuna – Ken Friedman (,)
A desaparecida – John Ford
Quinhentas nações (documentário em 8 jornadas) – Kevin Costner
Contos, novelas e ensaios
Memórias de Ponta-de-ferro – relato estabelecido por William Camus
Viagem para as trevas – John Upton Terrel
Enterrem o meu coração na curva do rio – Dee Brown (chefe Olho Sagaz)
O sol Hopi – Dan C.Talayesva ( chefe Águia Branca)
A viagem de don Álvaro Cabeza de Vaca – trad. do espanhol antigo por Fanny                                          Bandelier
As minhas aventuras no país dos Zuñi – Frank Hamilton Cushing
Contos – Dorothy M. Johson
Na pista do Oregon – Francis Parkman
Apache – W. Livingston Confort
I’shi em dois mundos – Theodora Kroeber
Os caçadores do Arkansas – Gustave Aimard
Onde os mortos dançam – Tony Hillerman
A pradaria – James Fenimore Cooper
A minha história – Geronimo, texto estabelecido por Frederic Turner
Ainda há índios? – Claude Roy, Roger Renaud, Edouard Bailby, etc.
Antigas Américas – Michael Coe, Dean Snow e Elisabeth Benson
O livro da herança americana dos índios – William Brandon
Sugere-se, ainda, a leitura das obras de Zebulon Montgomery Pike, John Charles Fremont, Benjamin Bonneville e Edewin Thompson Denig (nenhuma delas publicadas em português). De muito interesse, igualmente, é a obra gráfica de Karl Bodmer e, de Georges Catlin, o álbum “Hábitos, costumes e condição dos índios norte-americanos”, que arrola cerca de quatrocentos desenhos e pinturas a cores (em França ed. pela Denoel). As obras “Contos de Inverno”, anais das tribos Lakotas e Kiowas e a “Walam Olum”, crónica tribal dos Delawares, são também excelentes, posto que difíceis de encontrar no mercado fora dos EUA ou Canadá. É boa leitura, ainda, a “Relação da primeira viagem e descobertas dos Espanhóis na América”, de frei Bartolomeu de las Casas, bem como o relatório diplomático da expedição de Lewis e Clark.
                                                                Fonte:
NS