Natureza pura

terça-feira, 12 de abril de 2022

Os novos ÍNDIOS

A AMÉRICA REDESCOBRE os seus ÍNDIOS

Leonídio Paulo Ferreira(DN)

 


 

Quando era criança Deb Haaland passava o verão com os avós maternos numa casa sem água corrente em Mesita, uma das seis aldeias do Novo México onde continua a viver o Pueblo of Laguna, uma das quase 600 tribos índias que os Estados Unidos reconhecem, escreveu o The Washington Post. Aos 60 anos, a congressista tornou-se de um momento para o outro uma celebridade, e por isso esta historieta pessoal, porque foi escolhida por Joe Biden, vencedor das presidenciais de 3 de novembro, para secretária do Interior, uma pasta ministerial que lhe dá controlo sobre vastos territórios do país e também sobre muitos assuntos índios. Será também apenas o segundo nativo-americano, expressão politicamente correta para índio ou índia, membro de uma administração americana. Antes, Charles Curtis, que se dizia da tribo Kaw do Kansas, foi vice-presidente de Herbert Hoover entre 1929 e 1933.

A um mês de tomar posse e substituir Donald Trump na Casa Branca, Biden continua a construir uma equipa multicultural. E a escolha de uma índia tem um tremendo simbolismo, pois os mais antigos habitantes dos Estados Unidos são uma minoria cheia de razões de queixa da história. Basta pensar que são hoje dois milhões em 330 milhões de americanos quando se calcula que aquando da chegada dos primeiros europeus seriam uns sete milhões de almas nas terras a norte do rio Grande. A juntar a esta nomeação, o número recorde de seis congressistas também pode ser interpretado como uma verdadeira tentativa de reconciliação entre o país e os seus índios, muito além de filmes bonitos como Danças com Lobos ou da moda da mitificação das tribos como campeãs do ambiente.

Chamem-se índios, esquimós, siberianos ou aborígenes, muitos pequenos povos foram subjugados pelos colonizadores europeus e condenados à situação de minoria nas suas terras. E não só pelos europeus. A Rússia expandiu-se pela Ásia do Norte, onde povos minúsculos se habituaram há séculos a que o centro de poder seja o distante Kremlin. Tibete e Xinjiang têm hoje uma maioria de Han.